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livrosquesãoamigos

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Depois de ter visto alguns dos episódios de "O Crime do padre Amaro" na RTP, decidi pegar no meu volume do livro e depois de alguns bons anos, relê-lo.

Não tinha memória da segunda metade do livro, agora percebo porquê, demasiado violenta, é o pior do ser humano a vir ao de cima. Já da primeira metade, tinha boas memórias e lembrava-me bem da diversão que foi lê-lo. 

Esta versão televisiva foi bastante transformada naquilo que se julga que o espectador quer. Eu não apreciei muito e sem qualquer dúvida aconselho a lerem o livro.

No panorama actual, a história do padre Amaro e compinchas não destoa, talvez seja mais desculpável do que acontece actualmente porque, pelo menos, os prazeres carnais são com senhoras adultas que sabem bem o que fazem.

Tenho de deixar aqui a parte que nunca saiu da minha memória, e com a qual ri-me sozinha na altura em que o li ainda adolescente.

E os três padres então foram até à porta da cozinha. As senhoras já lá estavam, em pé diante da lareira, batidas da luz violenta da fogueira que fazia destacar estranhamente as mantas de agasalho de que já se tinham coberto. A "Ruça" de joelhos, soprava, esfalfada. Tinha cortado com o facão a encadernação do "Panorama" e as folhas retorcidas e negras, com um faiscar de fagulhas, voavam pela chaminé nas línguas de fogo claro. Só a luva de pelica não se consumia. Debalde com as tenazes a punham no vivo da chama: tisnava, reduzida a um caroço engorolado; mas não ardia. E a sua resistência aterrava as senhoras.                                                                                                       - É que é da mão direita com que cometeu o desacato! - dizia furiosa D. Maria da Assunção.                                                                                                      - Bufa-lhe, rapariga, bufa-lhe! - aconselhava da porta o cónego muito divertido.                                                                                                           - O mano faz favor de não troçar com coisas sérias! - gritou D. Josefa.           - Oh, mana, a senhora quer saber melhor que um sacerdote como é que se queima um ímpio? A pretensão não está má! É bufar-lhe, é bufar-lhe! 

Infelizmente, não se lembraram de colocar esta (e outras) passagem na série. É pena. Focaram-se no sórdido, dando-lhe toda a primazia. 

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A Elisabeth desapareceu - Emma Healey

Um livro tão doce como amargo, uma realidade não desejada, mas que faz parte da vida de tantos...

Nestas páginas, entramos na mente de Maud e vivemos com ela momentos vazios, momentos que não são, momentos que tenta agarrar desesperadamente com fracos resultados. Maud acredita que a sua amiga Elizabeth está desaparecida e faz disso o seu mantra. Com uma idade avançada e com mais lembranças de tempos passados do que presentes, vamos seguindo as suas indecisões e as recordações de um outro desaparecimento que marcou a sua vida.

Ligo a chaleira. Sei qual é a ficha, pois alguém a rotulou; CHALEIRA. Tiro chávenas, leite, e um saco de chá de um frasco onde se lê CHÁ. Ao lado do lava louça há uma nota: O café ajuda a memória. Essa tem a minha caligrafia. Levo a chávena para a sala de estar, parando na ombreira. Tenho um ribombar na cabeça. Ou talvez venha do andar de cima. Começo a subir até ao patamar, mas não consigo fazê-lo sem me agarrar a ambos os corrimãos, pelo que volto atrás e deixo o chá na prateleira do corredor. É só um minuto.

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Um livro fofinho que não deixa de ter recados e o moral da história a quem o ler.

Uma lojinha de lãs criada com amor, que nos faz apostar tudo nela. Começamos por decorá-la e desejar que tenha muito sucesso. Entramos num clube de tricô, conhecemos as 4 participantes e até apetece pegar nas agulhas e num novelo e começar a tricotar camisolas, gorros e luvas. No entretanto vamos assistindo a vidas, angustias e vitórias inerentes a qualquer ser humano e aqui retratadas com emoção e carinho. Afinal não é tão difícil ser empático e ajudar o próximo não custa assim tanto.

Eis como começa, para abrir o apetite...

A primeira vez que vi a loja de bicicletas em Blossom Street, pensei no meu pai. Fez-me lembrar a loja de bicicletas que ele tinha quando eu era miúda. Até as montras amplas, protegidas do sol por um garrido toldo às riscas, eram iguais. No exterior da loja do meu pai havia vasos com flores repletos de botões vermelhos - não-me-toques - que se derramavam sob as vitrinas. esse era o contributo da minha mãe: não-me-toques na Primavera e no Verão, crisântemos no Outono e azevinho verde e cintilante no Natal. Também tenciono ter flores.

 

                                                Boas leituras!