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livrosquesãoamigos

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Peter Hoeg  -  Smilla e os mistérios da neve.

Foi muito bom ter pegado neste livro ao fim de uns anos em que ficou pendurado por não o ter conseguido ler na altura, tão chato o achei. E foi bom porquê ? Porque encontrei um marcador que já não tinha esperança de voltar a ver novamente, onde estou com o meu neto mais velho, que hoje tem nove anos.

Valeu a pena só por isso. É um livro demasiado técnico para um thriller que supostamente faria com que quiséssemos ler mais, e não menos como aconteceu. Esta minha mania de não deixar livros a meio foi o que me fez seguir até ao fim. Isso e algum sentido de humor da protagonista.

No meio de tanta palha, encontrei algo que quero partilhar. Algo tão óbvio que nem me tinha passado pela cabeça por ser tão simples.

Raríssimas pessoas sabem ouvir. A sua pressa arrasta-as para fora da conversa, ou procuram internamente melhorar a situação, ou ficam a preparar a observação a ser feita quando o outro se calar e chegar a sua vez de entrar em cena.

É assim que vejo muitas das conversas de circunstância, sem substância!

 

 

   

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Confesso que apesar de ter um bom enredo e ser uma boa história, tive um pouco de dificuldade e senti um pouco de relutância em levá-lo até ao fim. Mas, só nas últimas páginas é que sabemos quem foi o culpado, por isso não larguei, para além de que não gosto de deixar livros a meio. Talvez tenha sido o meu estado de espírito que não estava para lá virado, porque tem muita agitação, intrigas e exemplos de vida muito válidos.

E assim começa;

É aqui que a minha vida começa.

Não há trinta e seis anos num hospital de Londres. Não há dezasete anos quando deixei a casa dos meus pais para viver sozinha num estúdio alugado, jeitoso mas compacto. Não há catorze anos quando me mudei para Brighton. Não há doze, quando me casei. Nem sequer há nove anos quando tive a minha primeira filha, nem há sete quando tive a segunda. A minha vida começa agora. Com dois corpulentos agentes da polícia fardados e uma  agente esguia e à paisana na minha sala de estar, prestes a levar o meu marido.

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  A breve vida das flores  -  Valérie Perrin

Depois de ter lido um comentário de uma ilustre escritora que aprecio, e que referiu-se a este livro como "banhada" e "mastradança", a curiosidade ficou ao rubro. Creio ser um dos livros mais comentados do momento, e sempre com elogios, por isso, este livro que estava na montanha de livros por ler, foi o senhor que se segue. 

Peguei e li metade do livro de uma assentada, o resto foi nos dois dias seguintes. Fui engolida, fui envolvida pela vida de Violette e por todas as sensações que com força e com delicadeza vamos conhecendo ao longo destas páginas cheias de vida sofrida, generosa, cheia de dúvidas, e cheia de humanidade.

Os cemitérios passaram a ter uma imagem muito mais confortável depois desta leitura.

Os meus vizinhos são determinados. Não têm preocupações, não se apaixonam, não roem as unhas, não acreditam no acaso, não fazem promessas nem barulho, não têm segurança social, não choram, não procuram as chaves nem os óculos, o telecomando, os filhos ou a felicidade.

Não lêem, não pagam impostos, não fazem dieta, não têm preferências, não mudam de opinião, não fazem a cama, não fumam, não fazem listas, não pensam duas vezes antes de falar. Não têm substitutos.

...

Estão mortos.

No início de cada capítulo, temos frases como estas;

 - A minha avó ensinou-me muito cedo como apanhar estrelas:

basta pôr de noite uma vasilha com água no meio do pátio para as vermos a nossos pés.

 - Toutinegra, se voares sobre esta sepultura, canta-lhe a mais bela canção.

 - Cremos que a morte é uma ausência, quando afinal é uma presença secreta.

 - A morte de uma mãe é o primeiro desgosto que choramos sem ela.

Opiniões! Cada um tem a sua, cada um a sua maneira de ver e sentir. Afinal, se toda a gente gostasse do amarelo, a vida seria um poucochinho mais monótona. Quanto a mim, leiam este livro, não se arrependerão!