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livrosquesãoamigos

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26 Fev, 2024

Chuva Miúda

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Chuva Miúda - Luís Landero

Peguei e não larguei. O meu dia de folga foi com ele. 

 Guerrilhas de família com memórias diferentes dos mesmos momentos, a demonstração de que os factos são diferentes de pessoa para pessoa, conforme a memória e a forma como o mesmo momento é lido e lembrado por todos aqueles que o viveram, fizeram com que gostasse bastante deste livro.

Aurora não tem nenhuma vontade de regressar a casa, ter de falar, sorrir, explicar, ouvir e depois ler e ouvir todas as mensagens e responder e devolver todas as chamadas, e ouvir uma vez mais as confidências de cada uma das personagens  desta história que nunca acabará, as diversas versões de cada episódio, com todas as suas bifurcações e detalhes, além de ter de comentar, compreender, moderar, orientar, consolar, condoer-se, alegrar-se, negociar os silêncios, oferecer conselhos e esperanças..., só de pensar nisso sente-se esgotada, sem forças para tanto, e com muito sono em atraso, como se estivesse há anos sem dormir.

19 Fev, 2024

Auschwitz e Vorkuta

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"OTatuador de Auschwitz"
"A Coragem de Cilka"

Heather Morris

Dois livros que se complementam, que faz todo o sentido serem lidos seguidos. Mais alguns retratos do que foram os campos de concentração Nazi e os campos de trabalho na Sibéria. Com personagens reais e toda a informação que a autora teve, ficcionando as faltas, temos as realidades que não queremos acreditar.

Na minha adolescência li muitos relatos sobre campos nazis e a 2º Guerra mundial, por isso o 1º livro não teve tanto impacto em mim, mas o 2º, passado nos campos de trabalho da Sibéria, e o traçado da vida de Cilka, foi mais interessante desse ponto de vista. 

Um excerto do final do 2º livro;

Cada prisioneiro libertado recebeu uma modesta subvenção e ordem para se fixar nalguma parte remota da URSS. Mas, na sua maioria, continuavam a ser limitchiki, ou seja, não podiam viver a menos de cento e um quilómetros de qualquer grande cidade, sobretudo para impedir o impacto negativo que os seua relatos decerto teriam na fé no comunismo e na população urbana em geral. Actualmente, Vorkuta conta com cerca de quarenta mil pessoas, na sua maioria descendentes de presos ou de guardas .

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Estão concluídas as leituras de "A vida contada por um Sapiens a um Neandertal" e "A morte contada por um Sapiens a um Neandertal"(este em espanhol).

Os autores, Juan José Millás (escritor e jornalista) e Juan Luis Arsuaga (escritor e paleontólogo), numa agradável conversa, com humor, deixam-nos nestes livros informações catedráticas e pessoais, sobre a evolução da vida, sobre a morte, o envelhecimento e a longevidade.

Andam a prometer-nos a imortalidade desde que o mundo é mundo, de diversas formas - insiste o palentólogo -Que diferença há entre aquele que te diz que vais viver cento e vinte anos sem qualquer custo e o que te promete um paraíso no qual estarás rodeado por cem virgens? Qual é a diferença? A única verdade é que os dois profetas pertencem à mesma categoria de sem-vergonhas. Preocupa-me que isto não fique claro, porque este é o último capítulo do livro e quero que termine bem.

 - Não te preocupes, serei fiel às tuas palavras.

 - Pois, então ficamos por aqui, que já vou chegar tarde a uma reunião.

Caminhamos juntos até à saída do cemitério, onde nos despedimos com um abraço invulgar, já que o paleontólogo mantém sempre as distâncias.

05 Fev, 2024

Quarto de despejo

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Quarto de Despejo  -  Carolina Maria de Jesus

Li um comentário sobre este livro, que dizia que o livro estava mal escrito, que era uma vergonha a editora não fazer uma revisão como deve de ser antes de publicar. 

Este livro foi escrito por uma mulher que vive numa favela de São Paulo, com dois anos de escolaridade, e que numa das casas onde trabalhou, usufruiu de uma biblioteca onde pode ler. Este livro foi escrito por uma mulher sofrida, catadora de papel e latas, sem marido, que criou três filhos num barraco, onde todas as dificuldades inerentes aos anos 50 estavam presentes. Aqui é contada uma realidade crua, sem floreados, onde se sente a revolta, sempre latente, de quem vivia naquelas condições, sem direito a esperar um futuro melhor.

Quando cheguei em casa os filhos já estavam. Esquentei a comida. Era pouca. E eles ficaram com fome.

... Nos bondes que circulam vai um policial. E nos onibus também. O povo não sabe revoltar-se. Deviam ir no palácio do Ibirapuera e na Assembleia e dar uma surra nestes politicos alinhavados que não sabem administrar o país.

Eu estou triste porque não tenho nada para comer.

Não sei como havemos de fazer. Se a gente trabalha passa fome, se não trabalha passa fome.