Meia-noite de Zimler
Richard Zimler tem a capacidade de nos oferecer um mundo novo em cada livro.
Envolve-nos num manto de histórias, inclusive a nossa própria e a do mundo, que ficam na nossa mente às voltas, até à última linha, e depois disso.
Este é o 7º livro dele que leio, e tenho ali mais cinco por ler. Tento intercalá-los com outras leituras porque não quero gastá-los todos de uma vez, são para ir saboreando de vez em quando. Quero ter sempre algo dele por ler.
Carlos Ruiz Zafón morreu em 2020, e o seu último livro "A cidade de vapor" está na minha estante por ler desde practicamente essa altura. Sei que quando esse for lido, não haverá outro, por isso adio a leitura.
Voltando a Zimler, deixo-vos algo para apreciarem;
No Princípio do Mundo, uma abelha- fêmea salvou o Louva-a-deus das águas do Grande Dilúvio agarrando nele e voando para longe. No terceiro dia de viajem por cima do mar infindável, exausta, voando cada vez com mais dificuldade, viu uma gigantesca flor branca. Estava meio aberta e erguia-se de dentro da água como se estivesse a chamar o Sol que ainda estava escondido atrás das zangadas nuvens cinzentas das chuvas diluvianas. Antes de renunciar à vida, depositou o Louva-a-deus no centro da flor. E nele, plantou a semente dos primeiros homens e das primeiras mulheres.
Meia-noite contou-me este conto em particular quando estava sentado num pedregulho junto do rio, a alguns quilómetros para leste do Porto. Quase nunca falava destas coisas dentro dos muros da cidade, pois dizia que era praticamente impossível dar-se completa atenção a uma história com tantas pessoas a andar de um lado para o outro e a fazer barulho.