Stoner e Guarda-chuvas
Stoner - John Williams
É um daqueles livros que arrumadinho na estante, olhava para mim com um olhar suplicante de "agora eu, agora eu". Finalmente fiz-lhe caso, peguei nele (em boa hora) e foi difícil largá-lo.
Cativante e humano, é a história da vida de um homem desde que sai da pobre quinta dos pais, para ir para a Universidade de Columbia estudar na Escola Agrária mas acaba a estudar Literatura inglesa. Virando as costas à sua previsível vida a cuidar da terra, decide leccionar na mesma Universidade onde estudou.
A partir daí, é toda a luta e todos os acontecimentos que passaram pela vida deste homem. Amores, desamores, ambições ou falta delas, e todas as emoções que parecem não estar, mas que acabamos por encontrar como pano de fundo.
Tudo isto na leitura deste livro que nos agarra pelos colarinhos, e não nos larga até à última página.
Foi para Columbia com um fato novo de tecido preto de primeira qualidade, encomendado do catálogo da Sears & Roebuck e pago com as economias da mãe, um sobretudo puído que pertencera ao pai, um par de calças de sarja azul que uma vez por mês usara para ir à igreja metodista de Booneville, duas camisas brancas, duas mudas de roupa de trabalho e vinte e cinco dólares em dinheiro vivo, que o pai pedira emprestado a um vizinho contra a promessa de trigo no Outono. Meteu pés ao caminho, partindo de Booneville, para onde os pais o tinham levado de manhãzinha na carroça da quinta, puxada por uma mula.
Para onde vão os guarda-chuvas - Afonso cruz
Este é um livro poderoso que me deixa muito orgulhosa dos nossos escritores contemporâneos.
É um livro que está cheio de palavras que voam, de silêncios gritantes, de migalhas que quando deitadas ao chão, criam pássaros atrás de quem as deitou.
Aqui podemos ler histórias e contos orientais lindíssimos, transmitidos por algumas das personagens que fazem destas páginas um prazer enorme, e que tanto nos faz divagar, reflectir, como nos faz sorrir com modéstia e respeito.
- A minha mãe, Sr, Elahi, interrogava-se para onde vão os guarda-chuvas. Sempre que ela saía à rua, perdia um. E durante toda a sua vida nunca encontrou nenhum. Para onde iriam os guarda-chuvas? Eu ouvia-a interrogar-se tantas vezes, que aquele mistério, tão insondável, teria de ser explicado. Quando era jovem pensei que haveria um país, talvez um monte sagrado, par onde iriam os guarda-chuvas todos. E os pares perdidos de meias e de luvas. E a nossa infância e os nossos antepassados. e também os brinquedos de lata com que brincávamos. E os nossos amigos que desapareciam debaixo das bombas. Haveriam de estar todos num país distante, cheio de objectos perdidos. Então, nessa altura da minha vida, era ainda um adolescente, decidi ser padre. Precisava de saber para onde vão os guarda-chuvas.
- E já sabe?- perguntou Fazal Elahi.
- Não faço a mais pequena ideia, mas tenho fé de encontrar um dia a minha mãe, cheia de guarda-chuvas à sua volta.
Este livro foi uma sugestão de Marta. Após ter lido um post seu, fui à estante buscá-lo. Era mais um dos que já há muito olhavam para mim, mas são tantos a fazê-lo...